quarta-feira, 21 de novembro de 2012

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Lágrimas da Guerrilheira

Lágrimas da guerrilheira
Francisco Frassales Cartaxo


É normal a emoção explodir em lágrimas, aliás, rigorosamente normal nas pessoas comuns. E também em criaturas predestinadas, como aconteceu com Dilma Rousseff, em cena mostrada na tevê. Sob o disfarce de um lugar comum (“A partir deste momento sou a presidenta de todos os brasileiros”), Dilma embargou a voz e teve as lágrimas contidas pelos aplausos que lhe vieram em socorro.


Aquelas palavras precederam o trecho de sua fala, sem dúvida, mais pessoal, mais íntimo, mais dela mesma. Ao reafirmar o amor à liberdade (“prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”), Dilma escancarou de vez sua alma:


“Entreguei minha juventude ao sonho de um país justo e democrático. Suportei as adversidades mais extremas infligidas a todos que ousamos enfrentar o arbítrio. Não tenho qualquer arrependimento, tampouco ressentimento ou rancor. Muitos de minha geração, que tombaram pelo caminho, não podem compartilhar a alegria deste momento. Divido com eles esta conquista, e rendo-lhes minha homenagem”.


Palavras assim jamais poderiam ser verdadeiras, ditas por Lula ou Fernando Henrique, salvo como recurso literário, muito embora os dois tenham sido vítimas do regime militar. Em Dilma, não. Elas, as palavras, nasceram de uma cidadã que expôs a emoção vinda de dentro, sofrida, revivida na lembrança da luta armada que ela abraçou no desespero do bloqueio antidemocrático imposto pela ditadura aos de nossa geração. E ao recordar as privações terríveis inerentes à clandestinidade, à prisão, às sevícias, à tortura física e psicológica praticada no submundo policial.


Esses fatos aconteceram numa época em que havia forte censura à mídia, em que as notícias acerca da repressão às lutas políticas no Brasil chegavam mitigadas pela Voz da América, BBC de Londres, Rádio Moscou, Rádio Pequim, Rádio França Internacional ou Rádio Tirana. Quando chegavam... Daí a opção de Dilma pelo “barulho da imprensa” frente ao arbítrio.


Não foi por acaso ou nostalgia, portanto, que Dilma convidou 14 antigos companheiros do Presídio Tiradentes, em São Paulo, incluindo 11 mulheres que junto com ela habitaram a Torre das Donzelas. Elas foram compartilhar a alegria da posse, dentro do Palácio, símbolo do poder. Algumas se conheceram na prisão, onde cimentaram amizade por cima das divergências ideológicas e políticas que fundamentavam diferentes estratégias e táticas na luta contra a ditadura. Dilma, por exemplo, integrava a Vanguarda Armada Revolucionária (VAR-Palmares), um dos muitos grupos formados às pressas para o enfrentamento pelas armas. Já a cearense Rita de Miranda Sipahi vinha de longas reflexões cristãs no seio da Igreja, em especial na Juventude Universitária Católica (JUC), que deram origem à Ação Popular (AP), a que pertenceu também José Serra. Que ironia!


Situações sofridas na pele e na alma a gente não esquece sem mais nem menos. Carregam-se a vida toda. Como fez Dilma ao ponto de deixar correr em plena festa de sua posse, furtivas lágrimas, prontamente abafadas pelos aplausos. Aplausos até de gente que, outrora, foi fiel serviçal da ditadura, como Sarney, que talvez continue a presidir o Senado com o beneplácito de Dilma. Sem “ressentimento ou rancor”.


Postado por Dirceu Galvão - Blog Sete Candeeiros Cajá - 04/01/2011

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010